quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

TAMPOGRAFIA

Você talvez não tenha se dado conta, mas, neste exato momento, você deve estar cercado por inúmeros objetos impressos em tampografia. Desde o teclado do seu computador, as lâmpadas que iluminam sua sala, passando pelos pratos decorados que utiliza nas suas refeições e até mesmo nos comandos de acio­na­men­to do seu veí­cu­lo a tampografia acompanha seu dia a dia. No entanto, não é só em produtos do nosso co­ti­dia­no que a tampografia se faz presente. Normas técnicas e de segurança, o crescimento da personalização de produtos como automóveis, eletrodomésticos e ele­troe­le­trô­ni­cos têm provocado uma grande demanda por impressão em peças para identificação, codificação e automação de linhas de montagem.





A tampografia, a serigrafia e a impressão digital são sistemas bastante empregados nesses segmentos. Contudo é a tampografia que se destaca por ter a maior versatilidade, pois permite a impressão dos mais diversos tipos de su­per­fí­cies e formatos de materiais, sejam côncavos, convexos, rugosos, com desnível, porosos etc.


Para entender melhor como isso é possível, vamos analisar como esse sistema fun­cio­na.


O termo “tampão”, do alemão gótico tappa, que significa tampar, ou tampon, termo francês que é o aumentativo de tampa, mais a palavra “grafia”, que significa escrita, originaram o termo tampografia, impressão por meio de um tampão.
Trata-­se de um processo de impressão indireta, ou seja, a tinta não é aplicada diretamente ao suporte (produto), mas sim transferida para uma superfície interme­diá­ria que será responsável pela aplicação da tinta no suporte. É considerado ainda um sistema encavográfico, o que significa que a forma de impressão, onde o grafismo a ser reproduzido é gravado, está em baixo relevo. Nesse sistema, a tinta é depositada sobre a forma e um tipo de lâmina retira o excesso para que ela se mantenha somente nas ­­áreas gravadas.


        Esquema básico do processo de impressão tampográfica (sistema aberto)



              
        Esquema básico do processo de impressão tampográfica (sistema Fechado)




A tinta que está no baixo relevo da forma é então transferida para o suporte por meio de um tampão de silicone. Por ser feito de um ma­te­rial muito macio e flexível, o tampão é capaz de retirar a tinta que está no baixo relevo e aplicá-­la uniformemente sobre a superfície a ser impressa.

A distribuição da tinta durante o processo de impressão pode ocorrer de duas formas, dependendo do tipo de tinteiro da máquina. No sistema aberto, a tinta é dis­tri­buí­da por meio de espátulas que a empurram de um reservatório aberto para a superfície do clichê, retornando à posição original eliminando qualquer vestígio que possa permanecer nas ­­áreas de contragrafismo. Dessa maneira, a tinta que será transferida para o tampão é somente aquela que permanece no baixo relevo (grafismo).


Transferência da tinta (grafismo) para o tampão e para a peça
  




Tampões para impressão tampográfica






 Já no sistema fechado, a tinta é transportada para a superfície do clichê por meio de um reservatório fechado de tinta. A retirada do seu excesso é feita pela própria borda do reservatório, normalmente con­fec­cio­na­do em cerâmica, ma­te­rial apro­pria­do para garantir a durabilidade dos clichês. Assim como no sistema aberto, a tinta que foi depositada nas ­­áreas de baixo relevo do clichê é aplicada à peça por meio do tampão.


O sistema de impressão é basicamente simples, mas hoje é possível encontrar equipamentos bastante automatizados e com configurações di­fe­ren­cia­das de acordo com as necessidades do clien­te. Pode-­se acoplar, por exemplo, um sistema de impressão digital para a identificação de dados variáveis.
Os itens fundamentais do processo de impressão tampográfica são: tampão, clichê, tinta e gabarito.



O tampão é um acessório importante do processo, pois interfere diretamente na qualidade da impressão. Quan­do a tampografia foi inventada, os tampões eram feitos de gelatina, o que comprometia a sua resistência em grandes tiragens.


Hoje em dia utilizam-­se borracha e ­óleos entre outros componentes do silicone.
Os tampões, na sua maioria, pos­suem formato pontiagudo, o que facilita o seu deslizamento durante a retirada da tinta de dentro do baixo relevo do clichê. As características superficiais do tampão devem garantir uma perfeita moldagem à peça durante a impressão. Os tampões de maior dureza permitem melhor reprodução de caracteres pequenos e imagens mais detalhadas.

Porém, se o produto a ser impresso tiver uma superfície mais irregular, deve-­se optar pelos mais flexíveis. Os fabricantes identificam os tampões quanto à durabilidade usando cores diferentes.

Sendo assim, as variáveis que definem a escolha ­ideal do tampão são:

• Formato e características da peça a ser impressa
• Modelo da máquina de impressão
• Disposição da gravação no clichê
• Tipo de grafismo a ser reproduzido.



O clichê é a forma de impressão do processo tampográfico. O ma­te­rial com o qual ele é fabricado o diferencia quanto à sua aplicação:




• Nylon: formado por uma base metálica e coberto por um polímero fotossensível, onde o grafismo é gravado. Esse tipo de clichê possibilita boa reprodução de detalhes e tem baixo custo, sendo excelente para trabalhos de baixa tiragem, uma vez que sua durabilidade gira em torno de 15.000 impressões.

• Aço flex: composto totalmente de aço temperado, com espessura de aproximadamente 0,3 mm. A tiragem nesse caso pode chegar a 30.000 impressões, oferecendo boa reprodução de detalhes, o que o torna vantajoso, pois possui custo menor que o clichê de aço de 10 mm, mas com igual qualidade de impressão e durabilidade su­pe­rior ao clichê de nylon.


• Aço temperado: este clichê possui composição semelhante ao aço flex, porém com maior espessura (10 mm). A sua qualidade de reprodução de detalhes é excelente e por esse motivo é indicado para a reprodução de quadricromias. As tiragens podem ultrapassar um milhão de impressões. Apesar do alto custo, possui a vantagem de permitir o seu reaproveitamento em novas gravações, por meio de retífica, além de possibilitar a gravação em ambos os lados.


   Dispositivo em resina

A gravação dos clichês é feita com o uso de fotolitos por meio de um processo fotoquímico, apesar de já existirem no mercado sistemas de gravação a laser, direto do computador.

O processo fotoquímico consiste em expor o fotolito com o grafismo a ser impresso (um para cada cor) sobre o clichê pre­via­men­te coberto por uma substância sensível à ra­dia­ção ul­tra­viole­ta. Tal procedimento tem a função de proteger as ­­áreas de contragrafismo do processo químico que formará o baixo relevo no clichê (por meio de corrosão no caso do aço e dissolução da camada de fotopolímero no caso do nylon).


A tinta tampográfica possui composições diferentes, classificando-­se em monocomponentes e bicomponentes. De forma geral, a sua composição básica é a seguinte:


• Resina: tem a função, junto com o di­luen­te, de manter a transparência do pigmento e garantir a aderência da tinta ao ma­te­rial.
• Pigmento: orgânico ou inorgânico, tem a função de conferir cor à tinta.
• Di­luen­te: tem a função de conferir fluidez à tinta, auxiliando na sua aderência à peça.
• Aditivos: utilizados para melhorar o desempenho da tinta no processo e nas características finais da impressão.
• Catalisador: componente agregado às tintas bicomponentes para melhoria da aderência e de sua resistência a agentes físicos e químicos após a impressão.



As tintas monocomponentes secam por evaporação de di­luen­tes, o que permite deixá-­las por mais tempo na máquina sem que sequem durante o processo.

Entre elas podem-­se citar as tintas de base:
• Vinílica
• Poliuretana
• Sintética
• Acrílica

As bicomponentes necessitam de catalisadores para aumentar a sua resistência mecânica, permitindo elevar a sua aderência à peça impressa e, consequentemente, sua resistência mecânica. Entre elas podem-­se citar as tintas:
• Epóxi
• Poliuretanas modificadas



Para garantir uma boa qualidade de impressão e resistência à abrasão e aos agentes os químicrecomenda-­se rea­li­zar testes de aderência. Dependendo do caso, é necessário aplicar tratamentos superficiais antes ou depois da impressão. Entre eles estão a aplicação de primer em peças de polipropileno e po­lie­ti­le­no, tratamento corona, que a partir de uma descarga elétrica prepara materiais com pouca ou nenhuma pro­prie­da­de de adesão para receber a tinta na impressão, e finalmente a flambagem, menos empregada pelo difícil controle do processo, que consiste em tratar a superfície a ser impressa com calor por meio de uma chama azul.


Após a impressão pode-­se ainda submeter as peças, es­pe­cial­men­te as feitas em nylon, metais, baquelite e vidro, a altas temperaturas (60 a 150°C) com o objetivo de am­pliar a aderência da tinta e acelerar o processo de secagem.
O dispositivo, conhecido também como “berço”, “apoio” ou “gabarito”, é uma peça bastante importante do sistema de impressão. Ele possui a função de po­si­cio­nar a peça a ser impressa na máquina evitando que haja movimentação durante o processo. Pro­por­cio­na apoio para o tampão no momento da impressão, facilitando a alimentação e a extração das peças e protegendo-­as contra riscos ou quebra. Normalmente são fabricados sob medida para cada tipo de peça a ser impressa. Os materiais mais comuns empregados na fabricação dos dispositivos são:



• Alumínio: o mais utilizado, pois possui alta durabilidade.
• Madeira: indicada para baixas tiragens, pois desgasta com o uso, mas possui custo mais baixo e não agride a peça.
• Resina: empregada em aplicações especiais, para a impressão de peças de formato irregular ou flexíveis.
• Aço: utilizado na aplicação em peças de metal pela sua alta resistência ao atrito com outras partes de metal.
• Aplicações especiais: alguns dispositivos foram desenvolvidos para melhorar o processo de produção tanto em relação à qualidade quanto à produtividade. Entre eles pode-­se citar o dispositivo com tratamento à base de Teflon ou feltro para a impressão em peças delicadas, que não podem sofrer riscos. Há dispositivos com sistema a vácuo, que prendem o material por sucção e evitam qualquer movimentação durante a impressão; dispositivo com alavanca, que permite a impressão sobre toda a superfície, possibilitando a retirada da peça sem o manuseio do operador; e dispositivo com giro da peça, que admite a impressão em torno do produto a partir de um giro em 180º.
Agora, quando você encontrar algum ma­te­rial como os ilustrados neste artigo, lembrará que eles são produtos de um elaborado processo de produção gráfica e, quem sabe um dia, poderão constituir uma nova oportunidade de negócio para a sua empresa.


Simone Ferrarese é coordenadora dos cursos de graduação e pós-­graduação da Faculdade Senai de Tecnologia Gráfica. Guilherme de Moura é instrutor de impressão serigráfica e tipográfica da Escola Senai Theobaldo De Nigris.