TAMPOGRAFIA
Você talvez não tenha se dado conta, mas, neste exato momento,
você deve estar cercado por inúmeros objetos impressos em tampografia. Desde o
teclado do seu computador, as lâmpadas que iluminam sua sala, passando pelos
pratos decorados que utiliza nas suas refeições e até mesmo nos comandos de
acionamento do seu veículo a tampografia acompanha seu dia a dia. No
entanto, não é só em produtos do nosso cotidiano que a tampografia se faz
presente. Normas técnicas e de segurança, o crescimento da personalização de
produtos como automóveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos têm
provocado uma grande demanda por impressão em peças para identificação,
codificação e automação de linhas de montagem.
A tampografia, a serigrafia e a impressão digital são sistemas
bastante empregados nesses segmentos. Contudo é a tampografia que se destaca
por ter a maior versatilidade, pois permite a impressão dos mais diversos tipos
de superfícies e formatos de materiais, sejam côncavos, convexos, rugosos,
com desnível, porosos etc.
Para entender melhor como isso é possível,
vamos analisar como esse
sistema funciona.
O termo “tampão”, do alemão gótico tappa, que significa tampar, ou tampon,
termo francês que é o aumentativo de tampa, mais a palavra “grafia”, que
significa escrita, originaram o termo tampografia, impressão por meio de um
tampão.
Trata-se de um processo de impressão indireta, ou seja, a tinta não é
aplicada diretamente ao suporte (produto), mas sim transferida para uma
superfície intermediária que será responsável pela aplicação da tinta no
suporte. É considerado ainda um sistema encavográfico, o que significa que
a forma de impressão, onde o grafismo a ser reproduzido é gravado, está em
baixo relevo. Nesse sistema, a tinta é depositada sobre a forma e um tipo de
lâmina retira o excesso para que ela se mantenha
somente nas áreas
gravadas.
Esquema básico do processo de impressão tampográfica (sistema aberto)
Esquema
básico do processo de impressão tampográfica (sistema Fechado)
A tinta que está no baixo relevo da forma é então transferida
para o suporte por meio de um tampão de silicone. Por ser feito de um material
muito macio e flexível, o tampão é capaz de retirar a tinta que está no baixo
relevo e aplicá-la uniformemente
sobre a superfície a ser impressa.
A distribuição da tinta durante o processo de impressão pode ocorrer de duas
formas, dependendo do tipo de tinteiro da máquina. No sistema aberto, a
tinta é distribuída por meio de espátulas que a empurram de um reservatório
aberto para a superfície do clichê, retornando à posição original eliminando
qualquer vestígio que possa permanecer nas áreas de contragrafismo. Dessa
maneira, a tinta que será transferida para o tampão é somente aquela que
permanece no baixo relevo (grafismo).
Transferência da tinta
(grafismo) para o tampão e para a peça
Tampões para impressão tampográfica
Já
no sistema fechado, a tinta é transportada para a superfície do clichê por meio
de um reservatório fechado de tinta. A retirada do seu excesso é feita
pela própria borda do reservatório, normalmente confeccionado em cerâmica,
material apropriado para garantir a durabilidade dos clichês. Assim como no
sistema aberto, a tinta que foi depositada nas áreas de baixo relevo do
clichê é aplicada à peça por meio do tampão.
O sistema de impressão é basicamente simples, mas hoje é possível encontrar
equipamentos bastante automatizados e com configurações diferenciadas de
acordo com as necessidades do cliente. Pode-se acoplar, por
exemplo, um sistema de impressão digital para a identificação de dados
variáveis.
Os itens fundamentais do processo de impressão tampográfica são: tampão,
clichê, tinta e gabarito.
O tampão é um acessório importante do processo, pois interfere diretamente na
qualidade da impressão. Quando a tampografia foi inventada, os tampões eram
feitos de gelatina, o que comprometia
a sua resistência em
grandes tiragens.
Hoje em dia utilizam-se borracha e óleos entre outros
componentes do silicone.
Os tampões, na sua maioria, possuem formato pontiagudo, o que facilita o seu
deslizamento durante a retirada da tinta de dentro do baixo relevo do clichê.
As características superficiais do tampão devem garantir uma perfeita
moldagem à peça durante a impressão. Os tampões de maior dureza permitem
melhor reprodução de caracteres pequenos e imagens mais detalhadas.
Porém, se o produto a ser impresso tiver uma superfície mais
irregular, deve-se optar pelos mais flexíveis.
Os fabricantes identificam os tampões quanto à durabilidade usando cores
diferentes.
Sendo assim, as variáveis que definem a escolha ideal do tampão são:
• Formato e características da peça a ser impressa
• Modelo da máquina de impressão
• Disposição da gravação no clichê
• Tipo de grafismo a ser reproduzido.
O clichê é a forma de impressão do processo tampográfico.
O material com o qual ele é fabricado
o diferencia quanto à
sua aplicação:
• Nylon: formado por uma base metálica e coberto por um polímero fotossensível,
onde o grafismo é gravado. Esse tipo de clichê possibilita boa reprodução de
detalhes e tem baixo custo, sendo excelente para trabalhos de baixa tiragem,
uma vez que sua durabilidade gira em torno de
15.000 impressões.
• Aço flex: composto totalmente de aço temperado, com espessura de
aproximadamente 0,3 mm. A tiragem nesse caso pode chegar a 30.000
impressões, oferecendo boa reprodução de detalhes, o que o torna vantajoso,
pois possui custo menor que o clichê de aço de 10 mm, mas com igual qualidade
de impressão e durabilidade
superior ao clichê de
nylon.
• Aço temperado: este clichê possui composição semelhante ao aço flex, porém
com maior espessura (10 mm). A sua qualidade de reprodução de detalhes é
excelente e por esse motivo é indicado para a reprodução de quadricromias.
As tiragens podem ultrapassar um milhão de impressões. Apesar do alto
custo, possui a vantagem de permitir o seu reaproveitamento em novas gravações,
por meio de retífica, além de possibilitar a gravação em ambos os lados.
Dispositivo em resina
A
gravação dos clichês é feita com o uso de fotolitos por meio de um processo
fotoquímico, apesar de já existirem no mercado sistemas de gravação
a laser, direto do computador.
O processo fotoquímico consiste em expor o fotolito com o grafismo a ser
impresso (um para cada cor) sobre o clichê previamente coberto por uma
substância sensível à radiação ultravioleta. Tal procedimento tem a
função de proteger as áreas de contragrafismo do processo químico que formará
o baixo relevo no clichê (por meio de corrosão no caso do aço e dissolução da
camada de
fotopolímero no caso do nylon).
A tinta tampográfica possui composições diferentes, classificando-se em monocomponentes e bicomponentes. De forma geral, a
sua composição básica é a seguinte:
• Resina: tem a função, junto com o diluente, de manter a transparência do
pigmento e garantir a aderência da tinta ao material.
• Pigmento: orgânico ou inorgânico, tem a função de conferir cor à tinta.
• Diluente: tem a função de conferir fluidez à tinta, auxiliando na sua
aderência à peça.
• Aditivos: utilizados para melhorar o desempenho da tinta no processo e nas
características
finais da impressão.
• Catalisador: componente agregado às tintas bicomponentes para melhoria da
aderência e
de sua resistência a agentes físicos e
químicos
após a impressão.
As tintas monocomponentes secam por evaporação de diluentes, o que permite
deixá-las por mais tempo na máquina sem que sequem durante o
processo.
Entre elas podem-se citar as tintas de base:
• Vinílica
• Poliuretana
• Sintética
• Acrílica
• Vinílica
• Poliuretana
• Sintética
• Acrílica
As bicomponentes necessitam de catalisadores para aumentar a sua resistência
mecânica, permitindo elevar a sua aderência à peça impressa e,
consequentemente, sua resistência mecânica.
Entre elas podem-se citar as tintas:
• Epóxi• Poliuretanas modificadas
Para garantir uma boa qualidade de impressão e resistência à abrasão e aos
agentes os químicrecomenda-se realizar testes de aderência.
Dependendo do caso, é necessário aplicar tratamentos superficiais antes ou
depois da impressão. Entre eles estão a aplicação de primer em peças de
polipropileno e polietileno, tratamento corona, que a partir de uma
descarga elétrica prepara materiais com pouca ou nenhuma propriedade de
adesão para receber a tinta na impressão, e finalmente a flambagem, menos
empregada pelo difícil controle do processo, que consiste em tratar a
superfície a ser impressa com calor por meio de uma chama azul.
Após a impressão pode-se ainda submeter as peças, especialmente
as feitas em nylon, metais, baquelite e vidro, a altas temperaturas (60 a
150°C) com o objetivo de ampliar a aderência da tinta e acelerar o processo de
secagem.
O dispositivo, conhecido também como “berço”, “apoio” ou “gabarito”, é uma peça
bastante importante do sistema de impressão. Ele possui a função de posicionar
a peça a ser impressa na máquina evitando que haja movimentação durante o
processo. Proporciona apoio para o tampão no momento da impressão,
facilitando a alimentação e a extração das peças e protegendo-as contra riscos ou quebra. Normalmente são fabricados sob
medida para cada tipo de peça a ser impressa. Os materiais mais comuns
empregados na fabricação dos dispositivos são:
• Alumínio: o mais utilizado, pois possui alta
durabilidade.
• Madeira: indicada para baixas tiragens, pois desgasta com o uso, mas possui
custo mais baixo e não agride a peça.
• Resina: empregada em aplicações especiais, para a impressão de peças de
formato irregular ou
flexíveis.
• Aço: utilizado na aplicação em peças de metal pela sua alta resistência ao
atrito com outras
partes de metal.
• Aplicações especiais: alguns dispositivos foram desenvolvidos para melhorar o
processo de produção tanto em relação à qualidade quanto à produtividade. Entre
eles pode-se citar o dispositivo com tratamento à base de Teflon ou
feltro para a impressão em peças delicadas, que não podem sofrer riscos.
Há dispositivos com sistema a vácuo, que prendem o material por sucção e
evitam qualquer movimentação durante a impressão; dispositivo com alavanca, que
permite a impressão
sobre toda a superfície, possibilitando a
retirada da peça sem o manuseio do operador; e dispositivo com giro da peça,
que admite a impressão em torno do produto a partir de um giro em 180‒º.
Agora, quando você encontrar algum material como os ilustrados neste artigo,
lembrará que eles são produtos de um elaborado processo de produção gráfica e,
quem sabe um dia, poderão constituir uma nova oportunidade de negócio para
a sua empresa.
Simone Ferrarese é coordenadora dos cursos de graduação e pós-graduação da Faculdade Senai de Tecnologia Gráfica. Guilherme de Moura é instrutor de impressão serigráfica e tipográfica da Escola
Senai Theobaldo De Nigris.